domingo

Espelho

Caro D.

"Tenho medo do que escrevo.
Escrevo todos os dias mas o que escrevo, escrevo-o com cuidado.
Reprimo o pulso, mas não exagero ao escrever sobre a minha vida, (eu amo a vida).
Não é tão simples como escolher meia dúzia de sinónimos, porque não quero usar sinónimos. Não é tão óbvio como pensar que escrevo abertamente sobre amor, quando raramente o faço. Não é tão espontâneo como exprimir a certeza, o conhecimento e suas reticencias...

Sei que as minhas palavras carregam dúvidas, desconforto, ódio e despedida. Sei que se hoje irradio felicidade, amanhã a tristeza ri-se de mim. Sei que poderia verter mais lágrimas em vez de gritar tantas vezes...
Mas o meu caderno é o meu espelho, e à minha frente está uma mulher que na maior parte das vezes sou eu."

 
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